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LIÇÃO Nº 7 – A SALVAÇÃO PELA GRAÇA

A nossa salvação é pela graça 

INTRODUÇÃO

– A salvação do homem dá-se pela graça. 

– As obras jamais podem salvar o ser humano. 

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I – O QUE É A GRAÇA 

– A palavra “graça” surge, na Versão Almeida Revista e Corrigida, pela vez primeira, na Bíblia, em Gn.6:8, quando é dito que Noé achou “graça” aos olhos do Senhor e, por isso, foi poupado, com sua família, do dilúvio. 

– A palavra original aí é “chen” ou “hen”( )וח . Esta palavra é “…empregada para significar a ação de um superior, humano ou divino, para com um inferior. Fala sobre favor imerecido…” (STRINGER, J.H. Graça, favor. In: DOUGLAS, J.D. (org.).

O novo dicionário da Bíblia, v.I, p.681). Esta mesma palavra aparece em outras passagens bíblicas, como em Gn.18:3, 19:19, 30:27, 33:15, 39:21; Ex.3:21, 11:3; 33:13; Sl.45:3, Zc.12:10. 

– No Antigo Testamento, também, temos outra palavra que é traduzida por “graça” na Versão Almeida Revista e Corrigida. É a palavra “hesed” ou “hesedh”( )דסח , “…traduzidas centenas de vezes como ‘misericórdia’ e dezenas de vezes como ‘bondade’, ‘longanimidade’ etc. Lutero a traduziu por Gnade, a palavra germânica para ‘graça’.

A despeito disso, não é exatamente o equivalente de graça. É uma palavra de dois fios, que pode ser empregada acerca de Deus e do homem; quando empregada acerca do homem, deixa subentendido um amor constante por outro ser humano ou por Deus. 

– É frequentemente encontrada em associação com a palavra ‘aliança’, e denota a atitude de fidelidade com que ambas as partes de um pacto devem caracterizar-se.(…) Snaith sugere a tradução ‘amor de pacto’ como o equivalente mais aproximado nas línguas modernas…” (STRINGER, J.H., op.cit., p.681).

Esta palavra aparece, em passagens bíblicas como Gn.20:13, Et.2:9, Dn.1:9. 

– Em o Novo Testamento, a palavra “graça” é “caris” (χάρις), que, por sinal, na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) traduz tanto “hen” quanto “hesed”. ‘…’Graça’ (…) inclui a ideia do poder divino que equipa o homem a viver uma vida moral.…” (STRINGER, J.H., op.cit., p.682).

“…Dentro da teologia cristã, a ‘graça’ veio a indicar o favor divino, gratuitamente oferecido, com base na missão de Cristo, recebida através da confiança humana na Palavra de Cristo.…” (CHAMPLIN, R.N. Graça. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.953). 

– A graça de Deus traduz a bondade do Senhor e o Seu desejo de favorecer o homem, de ser misericordioso com o ser humano, ainda que o homem não mereça esta benevolência divina, vez que pecou e se rebelou contra o seu Criador.

Entretanto, apesar do pecado, Deus mostra Seu amor em relação ao homem, por intermédio da Sua graça. Assim, sem que o homem mereça coisa alguma, Deus providenciou um meio pelo qual o homem pudesse retornar a conviver com o Senhor.

– Assim, quando ainda éramos pecadores, enviou Seu Filho para que morresse em nosso lugar e satisfizesse a justiça divina. Em seguida, a todos quantos crerem na obra do Filho, Deus permite que venha a novamente ter comunhão com Ele, ainda que imerecidamente.

É este favor imerecido que consiste na graça de Deus.

OBS: “…Graça significa propriamente o favor de Deus, ou a boa vontade que Deus nos traz, pela qual Ele está disposto a nos dar Cristo e a nos derramar o Espírito Santo com os Seus dons.…” (LUTERO, Martinho. Commentary on Romans. Trad. J. Theodore Mueller, p.XVI) (tradução nossa de texto em inglês). 

– A graça de Deus substitui o pecado na vida do homem que é justificado pela fé em Cristo Jesus.

Quando somos justificados, somos atingidos pela graça divina (Rm.5:18), graça que sobrepuja a nossa velha natureza, de tal sorte que o apóstolo diz que “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm.5:20 “in fine”), como também que, na vida do justificado, a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm.5:21). 

– A graça, portanto, passa a ser o critério do nosso relacionamento com Deus. Somos, a todo momento e instante, atingidos pelo favor imerecido do Senhor. É por este motivo que o tempo em que vivemos é denominado de “dispensação da graça” (cf. Ef.3:2),

ou seja, o período em que o relacionamento de Deus para com os homens é orientado pela “graça”, pelo favor divino em relação ao homem que não leva em consideração os méritos humanos.

OBS: “No AT Deus revelou-Se como o Deus da graça e misericórdia, demonstrando amor para com o Seu povo, não porque este merecesse, mas por causa da fidelidade de Deus à Sua promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó.(…).

Os escritores bíblicos dão prosseguimento ao tema da graça como sendo a presença e o amor de Deus em Cristo Jesus, transmitidos aos crentes pelo Espírito Santo, e que lhes outorga misericórdia, perdão, querer e poder para fazer a vontade de Deus (Jo.3.16; 1 Co 15.10; Fp.2.13; 1 Tm.1.15,16).

Toda atividade da vida cristã, desde o seu início até o fim, depende desta graça divina.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Fé e Graça (estudo), p. 1704). 

II – A SALVAÇÃO PELA GRAÇA DESDE ADÃO 

– Tendo visto o que é a graça, observemos que a salvação do homem se dá única e exclusivamente pela graça de Deus. É o que nos diz textualmente as Escrituras: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus”  (Ef.2:8). 

– Esta certeza tinham os cristãos na igreja primitiva, como se verifica no Concílio de Jerusalém, como dá testemunho o apóstolo Pedro quando afirmou: “Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também” (At. 15:11). 

– O homem não tinha condição alguma de se salvar, mas Deus decidiu que ele seria salvo e esta salvação somente se poderia dar pela graça, pois o homem, tendo pecado, merecia única e exclusivamente a morte, como, aliás, Deus já dissera ao dar a ordem para não comer da árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17). Por isso, com muita razão, o salário do pecado é a morte (Rm.6:23). 

– No entanto, o Senhor quis nos salvar e esta salvação somente poderia se dar pela Sua graça, pois se trata de um “favor imerecido”. Paulo bem demonstra isto ao dizer a Tito que “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt.2:11). 

– Eis o elemento distintivo do Cristianismo em relação às demais religiões. A religação do homem com Deus depende da graça e não dos méritos humanos.

O homem nada pode fazer para se salvar, está condenado a viver sob o domínio do pecado e a ficar eternamente separado de Deus por causa disso, mas Deus quer salvar o homem e lhe concede este favor imerecido. 

– Este favor imerecido é algo que vai contra os princípios humanos, contra a mentalidade humana, que acha que merece ter comunhão com Deus.

A salvação nada tem a ver com merecimento, é, antes de mais nada, um favor imerecido de Deus.  

– Ao contrário do Cristianismo, todas as demais religiões se fundamentam em méritos humanos para que se obtenha a salvação.

Todas elas enfatizam que o homem deve fazer algo para se salvar, mas não há o que o homem possa fazer para obter a salvação.

A compreensão de que a salvação é pela graça é crucial para que tenhamos um correto relacionamento para com Deus e para que entendamos o significado desta salvação que o escritor aos hebreus denomina de “tão grande salvação” (Hb.2:3). 

– A ideia de que podemos fazer algo para ser salvos é o caminho da perdição. A ideia de merecimento para salvação está vinculada à mentira satânica que levou à queda do primeiro casal, que é a da independência em relação a Deus, a da desnecessidade de Deus para que vivamos e sejamos felizes.

Foi por acreditar nesta mentira de “ser igual a Deus” que o primeiro casal pecou (Gn.3:5). 

– Quando se acredita em méritos humanos para a salvação, está-se a repetir o mesmo erro do primeiro casal, porque se entende que se possa restabelecer a comunhão com Deus independentemente da ação divina, o que é um rotundo absurdo.

Devemos, pois, evitar este pensamento, lembrando sempre que a salvação vem pela graça divina, por um favor imerecido. 

– Exemplo de que não podemos ter tal pensamento é o episódio do mancebo de qualidade, também chamado de jovem rico (Mt.19:16-30; Mc.10:17-31; Lc.18:18-30).

Aquele rapaz era extremamente religioso, visto, certamente, como um exemplo na sociedade, mas tinha a ideia de que poderia fazer algo para ter a vida eterna, para ter a salvação.

Tanto assim é que chegou à presença de Jesus e logo foi perguntando: “…Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?” (Mt.19:16). 

– Notemos que o jovem rico, por primeiro, chama a Deus de bom, certamente querendo ter também reconhecida a sua “bondade” pelo Senhor que, ao revés, diz que somente havia um bom que era Deus, a demonstrar que o homem, sendo mau, jamais pode salvar-se por seus méritos. 

– O mancebo de qualidade cria que a vida eterna era resultado de um “bem fazer”, mas, na verdade, não é pelo “bem fazer” que se obtém a salvação, mas, sim, pela graça de Deus, por um favor imerecido.

Aquele jovem não obteve a salvação porque não creu na palavra que Jesus lhe proferiu e saiu triste da presença do Salvador (Mt.19:22; Mc.10:22; Lc.18:23). 

– Caso bem diferente ocorreu com Zaqueu, o chefe dos publicanos de Jericó (Lc.19:1-10). Zaqueu queria tão somente ver Jesus e subiu em uma figueira brava para satisfazer o seu desejo.

Jesus mandou que ele descesse e disse que convinha pousar na casa dele e as Escrituras dizem que ele O recebeu gostoso. Zaqueu não fez prevalecer a sua posição e sabia que era um pecador, mas recebeu Jesus e isto foi fundamental para que fosse salvo. 

– Ao receber Jesus, sem merecer, pois o próprio Zaqueu reconhece ser um pecador e uma pessoa desonesta, confessando isto ao Salvador, Zaqueu obteve a salvação, algo que era absolutamente inviável ante os padrões judaicos, onde os publicanos eram considerados os mais vis pecadores e indignos de ter qualquer favor divino. 

– Não há o que possamos fazer para alcançar a salvação. Entretanto, o Senhor quis nos salvar e oferece esta salvação a quem crer em Jesus como um favor imerecido.

Como diz T.A. McMahon, presidente do ministério “Chamada Bereana”, o Cristianismo é a religião do “feito”, porque Deus fez o que era necessário para salvar o homem e, por isso, oferece a salvação como um “presente” a todo ser humano. 

– Por ser pela graça, a salvação vem de Deus, porque não poderia vir do homem. Por isso, é dito que “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo.1:17) e que “a graça de Deus se há manifestado trazendo salvação a todos os homens” (Tt.2:11). 

– Por ser pela graça, a salvação é um dom (Rm.5:15-17), ou seja, um presente, algo que nos é dado por Deus sem levar em conta o nosso merecimento. É um ato gratuito, uma doação.

Quando vamos ao direito, verificamos que a doação é um contrato unilateral, em que o doador manifesta a sua vontade de dar algo a outrem, sem que o outro tenha qualquer influência nesta vontade externada pelo doador.

O doador quer dar e o faz efetivamente, dependendo do donatário apenas a atitude de aceitar a vontade do doador e receber aquilo que lhe é oferecido. 

– O donatário nada precisa fazer senão aceitar o que lhe é oferecido e é precisamente isto que ocorre na salvação do homem.

Se o homem aceitar a salvação na pessoa de Cristo Jesus, crer que Ele é o Salvador, confessando seus pecados a Cristo e crendo que Deus O ressuscitou dos mortos, alcançará a salvação (Rm.10:9,10). 

– A ideia da salvação pela graça foi de difícil entendimento por parte dos judeus que creram em Jesus.

O farisaísmo, considerada a mais excelente das seitas judaicas, havia desenvolvido uma religiosidade que, a exemplo das demais religiões, entendia que a salvação vinha pelas obras, “in casu”, o cumprimento da lei e, por isso mesmo, criou a noção da “cerca da Torá”, ou seja, uma série de mandamentos que “preveniam” o homem de quebrar a lei.

Ao agir deste modo, estavam simplesmente dizendo que a salvação decorria dos méritos humanos, anulando, assim, a graça de Deus.

OBS: Assim diz o Talmude: “Moisés recebeu a Torá no Sinai e a transmitiu a Josué; Josué aos Anciãos; os Anciãos aos profetas; e os Profetas transmitiram-na aos Homens da Grande Assembleia.

Estes [os Homens da Grande Assembleia] disseram três ditos: Sejam prudentes no julgamento; formem muitos discípulos; e ergam uma cerca para a Torá.” (Pirke Avot 1:1).

“…As pessoas se perguntam acerca da necessidade de tantas leis talmúdicas que somos obrigados a observar.

Essencialmente, elas são uma ‘cerca’, instituída para proteger os mandamentos bíblicos contra o perigo de uma violação…” (BUNIM, Irving M. A ética do Sinai: ensinamentos dos sábios do Talmud, p.19). 

– É oportuno aqui observar que não é verdadeiro o ensino de que a salvação, antes da morte de Jesus, se dava pelas obras. O plano da salvação é único e, portanto, sempre a salvação se deu pela graça.  

– Jamais o homem mereceu a salvação e o fato de serem oferecidos sacrifícios para o perdão dos pecados ou a circunstância de que foi dada a lei, cuja vida estava vinculada ao seu cumprimento (Lv.18:5), não alterou o fato de que a salvação sempre foi pela graça. 

– A linhagem de Sete é denominada de “filhos de Deus” em Gn.6:2. Por que receberam tal denominação? Por que faziam o bem?

Não, porque, a exemplo de seu pai, invocavam o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, o “substituto de Abel” “fez bem” como seu irmão, reconhecendo ser um pecador e oferecendo o melhor para Deus em gratidão pela promessa de que viria da parte do Senhor alguém que restabeleceria a comunhão entre Deus e o homem. 

– Enoque foi trasladado porque fazia o bem?  Não, foi trasladado porque alcançou testemunho de que agradara a Deus (Hb.11:5), ou seja, viveu consoante a vontade do Senhor, reconhecendo a sua pecaminosidade e cumprindo o ministério profético que se lhe havia sido dado, “andando com Deus” (Gn.5:24) e somente se pode andar com alguém quando se está de acordo com ele (Am.3:3). 

– Noé foi salvo do dilúvio porque fazia o bem? Não, Noé foi salvo porque, embora justo e reto em suas gerações, achou graça aos olhos do Senhor, porque, a exemplo de seu bisavô Enoque, andava com Deus (Gn.6:8,9). 

– Abraão foi chamado por Deus porque fazia o bem? Não, e somente foi justificado quando creu em Deus (Gn.15:6; Rm.4:1-3). 

– De igual modo, Israel foi chamado para ser a nação peculiar de Deus entre os povos não porque tivesse feito o bem, mas pela graça de Deus.

Foi Deus quem formou esta nação e, sem que ela merecesse, resolveu torná-la Sua propriedade peculiar dentre os povos.

Não havia merecimento algum da parte dos israelitas, pois assim disse o Senhor pela boca de Moisés: “…povo santo és ao Senhor teu Deus: o Senhor teu Deus te

escolheu, para que lhe fosses o Seu povo próprio de todos os povos que sobre a terra há. O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que jurara a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” (Dt.7:6-8). 

– A própria lei foi dada a Israel pela graça de Deus, porquanto, desde a saída do Egito até a chegada ao monte Sinai, por sete vezes Israel falhou em crer em Deus, demonstrando, assim, todo o imerecimento para receberem a promessa de Abraão.

Como se isto fosse pouco, mesmo após aceitarem fazer um pacto com o Senhor, o povo não creu em Deus, temeu ser morto pelo Senhor por causa da manifestação divina no Sinai, tendo apenas Moisés subido ao monte e lá recebido a lei (Ex.19:5-13; 20:18-21), que serviu como um “remédio” que prepararia o povo para receber o “profeta como Moisés” que, este, sim, traria a graça que, por sua vez, removeria o pecado da humanidade e propiciaria o estabelecimento da amizade entre Deus e a humanidade (Dt.18:15-19).

OBS: As sete falhas de Israel na jornada do Egito até o Sinai: não creram em Deus duas vezes junto ao Mar Vermelho (Ex.14:10-12,30); duas vezes por causa da sede (Ex.15:23,24; 17:1-7); três vezes por causa da fome (Ex.16:1-3, 16-20, 22-28). 

– Portanto, a lei é a manifestação da graça de Deus, que “adiou” o estabelecimento da comunhão com Israel, apesar de ele não merecer tal tratamento, ante a sua incredulidade.

Ademais, se a salvação fosse pela lei ninguém seria salvo, pois homem algum cumpriu a lei, a começar de Moisés.

Com efeito, quarenta dias após a promulgação da lei, Israel já havia quebrado os dois primeiros mandamentos no episódio do bezerro de ouro, a ponto de Moisés ter, inclusive, quebrado as tábuas que havia recebido do Senhor (Ex.32:7-19). 

– As segundas tábuas da lei, aquelas que foram postas na arca da aliança (Dt.10:5; I Rs.8:9; II Cr.5:10), eram já a demonstração da misericórdia divina que perdoou o povo de Israel do pecado que haviam cometido e dado uma nova oportunidade àquela nação, tanto que quando o Senhor desceu para escrever nas segundas tábuas, apresentou-se como o Senhor misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade (Ex.34:6,7). Um favor imerecido dado aos israelitas, de sorte que até mesmo a lei estava debaixo da graça divina. 

III – A LEI E A GRAÇA 

– No entanto, esta realidade de que a salvação é pela graça foi de difícil compreensão até mesmo para os primeiros cristãos, notadamente aqueles que haviam vindo do farisaísmo e que tinham ainda a ideia de que a salvação deveria vir pelo cumprimento das obras da lei e, por conseguinte, dos “faros pesados de suportar” advindos do farisaísmo.

Esta vertente de pensamento dará surgimento aos “judaizantes”, que, inclusive, darão causa ao Concílio de Jerusalém, uma vez que entendiam que os gentios que cressem em Jesus deveriam guardar a lei de Moisés. 

– Papel preponderante na compreensão de que a salvação é somente pela graça terá o apóstolo Paulo que, no referido Concílio, pôde mostrar à igreja que a salvação é pela graça de Deus, como, aliás, concluiu a respeito o apóstolo Pedro, ao dizer que cria que seria salvo, assim como os demais cristãos, pela graça do Senhor Jesus Cristo (At.15:11).

–  Paulo, na segunda parte do capítulo 5 de Romanos, após ter delineado os parâmetros da justificação pela fé em Cristo Jesus, faz uma comparação entre o estado pecaminoso do homem e o estado decorrente da justificação, fazendo, assim, um contraste entre estas situações antagônicas, entre a morte e a vida, a luz e as trevas, como se encontram em outras passagens bíblicas. 

– A apresentação deste contraste, de pronto, mostra-nos que não é possível conciliar ambas as situações.

Só existem dois caminhos a seguir no tocante à eternidade e isto é bem demonstrado em todas as Escrituras. 

– Não é possível haver comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14 “in fine”), bem como não há situações intermediárias ou indiferentes. 

– O apóstolo é bem claro ao afirmar que há apenas dois estados em que o homem pode estar: ou o estado pecaminoso, o estado de morte ou, então, o estado de justificado, o estado de vida. 

– O evangelho, portanto, não admite quaisquer modulações ou invencionices que permita uma terceira categoria ou subterfúgios que permitam um contacto ou uma convivência do homem em ambos os estados. 

– Daí porque não haver como ser acolhidos, pelos genuínos servos do Senhor, ensinos como o purgatório, incorporado pela Igreja Romana em seus dogmas, que permite um acesso ao estado de vida de quem não se separou do pecado na vida terrena, ou, mesmo, dos chamados “universalistas”,

para os quais o homem, mais dia, menos dia, por causa do “amor de Deus”, atingirá a luz, mesmo que só tenha andado em trevas. São conceitos que contrariam frontalmente o ensino da Palavra de Deus. 

– O estado pecaminoso ingressou na humanidade por um homem, diz-nos Paulo. O primeiro casal pecou e, por causa deste pecado, toda a humanidade também pecou com eles, ou seja, há uma natureza pecaminosa que domina o homem de modo implacável. Todos os homens têm a natureza pecaminosa e vivem sob o jugo do pecado. 

– Assim já era antes da lei, pois, desde Adão até Moisés, nenhum homem conseguiu se livrar do domínio do pecado. 

– O pecado, portanto, é extremamente poderoso e tem dominado sobre toda a humanidade. Este domínio gerou a morte, ou seja, a separação entre o homem e Deus, morte que é inevitável no estado pecaminoso. 

– No estado pecaminoso, portanto, reina a morte. No estado pecaminoso, o que há é desobediência e ofensa contra Deus. 

– No entanto, o evangelho é a boa notícia de que, se Adão fez com que todos pecassem, Jesus, o novo Adão, não pecou, foi obediente até a morte e, por isso, ao morrer no nosso lugar, nos deu acesso à graça de Deus. 

– A obediência de Jesus trouxe-nos a justificação e a justificação, a vida, ou seja, o retorno da comunhão com Deus.

“Pela obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm.5:19 “in fine”). A graça, portanto, traznos vida. O estado do homem justificado é um estado de obediência e de justiça, totalmente diverso do estado pecaminoso. 

– Mas, alguém pode objetar, e a lei? Não produziu ela, também, vida? Paulo é bem claro ao mostrar que a lei apenas gerou um aumento do pecado. “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse” (Rm.5:20a). 

– Embora a lei seja proveniente de Deus e, portanto, é santa, ela, por si só, não foi suficiente para libertar o homem do pecado, mas, bem ao contrário, ao fazer o pecado conhecido dos homens, aumentou ainda mais a intensidade da desobediência e da ofensa cometidas pelos homens, que, assim, tiveram consciência da rebelião contra o Senhor, não fazendo caso disto e mantendo sua vida em pecado.

– A lei, portanto, só proporciona o aumento do pecado, só gera a abundância do pecado, já que ela é incapaz de libertar o homem do pecado, apenas fá-lo conhecido do homem, o que aumenta ainda mais a reprovação pelos atos pecaminosos cometidos.

É por este motivo que uma postura legalista é incompatível com o estado de justificação do homem. 

– O legalismo é uma atitude em que há uma adesão ou conformidade a um sistema de regras.

Quando se constrói um sistema legalista para se alcançar a salvação do homem, quando se criam regras e mandamentos através dos quais se pretende a justificação, o homem só faz aumentar os seus pecados. 

– Com efeito, dentro de um sistema legalista, as pessoas entendem que, ao cumprirem exteriormente o que mandam as regras, há plena satisfação dos requisitos necessários para a sua justificação, ou seja, crê-se que o homem é capaz de, por si só, alcançar merecimento para ser salvo. 

– Entretanto, mostra-nos o apóstolo, esta atitude não leva a situação alguma a não ser a um aumento do pecado. De nada adianta cumprir exteriormente os preceitos da lei se, no interior, o homem continua a desobedecer a Deus e a se rebelar contra o Senhor. 

– Aliás, a imagem do legalista foi-nos dada pelo Senhor Jesus que, ao se referir aos maiores legalistas do Seu tempo, os fariseus, disse que eles eram “sepulcros caiados”, que “…por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt.23:28b). 

– O legalismo é uma atitude típica de quem ainda se encontra no estado pecaminoso, pois o legalismo leva tão somente a um aumento do pecado. 

– Quando falamos em legalismo, imediatamente nos vem à mente os chamados “judaizantes”, aqueles que entendem que, ao servir a Cristo, ainda estão presos à lei de Moisés, corrente que tem como principal expressão, nos nossos dias, os movimentos sabatistas, surgidos no século XIX nos Estados Unidos e que possuem milhões de adeptos na atualidade. 

– No entanto, são estes os legalistas menos perigosos. Muitos há que, embora se digam sob a dispensação da graça, na verdade não passam de “modernos fariseus”, julgando os outros pela aparência e querendo sustentar uma vida espiritual única e exclusivamente com base no exterior das pessoas. 

– Este comportamento é típico dos “santarrões”, daqueles que se acham merecedores do favor divino e que se sentem com “direitos” diante de Deus, que se sentem “santos” e “irrepreensíveis”. 

– Todavia, a aparência de piedade destas vidas não passa de aparência, negando a sua eficácia nas suas ações, em especial, as mais secretas, aquelas que são habilmente escondidas da comunidade, mas que não conseguem escapar dos olhos d’Aquele para quem “não há criatura alguma encoberta (…) antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos…” (Hb.4:13).

OBS: “Obedecer a regulamentos, leis e tradições do cristianismo não é suficiente para sermos salvos.

Mesmo que pudéssemos manter puros os nossos atos, estaríamos condenados, porque nosso coração e nossa mente são perversos e rebeldes.

Como Paulo, não poderemos encontrar alívio na sinagoga ou na igreja se não procurarmos o próprio Senhor Jesus Cristo para obter a salvação que Ele nos concede gratuitamente.

Quando realmente O buscamos, somos inundados de alívio e gratidão. E obedeceremos melhor aos regulamentos?

Muito provavelmente, mas agora estaremos motivados por amor e gratidão, não pelo desejo de obter a aprovação de Deus. Não estaremos simplesmente nos submetendo a formalidades legais, mas procurando fazer a vontade de Deus de forma voluntária e amorosa.” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, nota a Rm.7.6, p.1563). 

– Esta tendência legalista, já observada entre os judaizantes que motivaram o Concílio de Jerusalém, continuou a existir ao longo da história da Igreja e, mesmo, de se tornar dominantes, na medida em que acabaram por gerar uma série de mandamentos e de crenças que não tinham qualquer base bíblica e que acabaram por gerar a necessidade de uma reforma na Igreja, o que se iniciou com Martinho Lutero, precisamente quando percebeu que não havia qualquer respaldo bíblico para se dizer que as obras tinham

algum papel na salvação das pessoas. Suas 95 Teses, que deram início à Reforma Protestante, tiveram como base a afirmação de que não se poderia crer em necessidade de boas obras para eliminar a “pena do pecado”, doutrina que se construiu na Igreja de então e que dava base para as “indulgências” e para a “doutrina do Purgatório”. 

– A lei opõe-se à graça, não no sentido da origem, porque ambas provêm de Deus, mas, sim, no sentido do efeito, das consequências produzidas: a lei faz abundar o pecado, enquanto que a graça liberta do pecado e o eliminará por completo quando da glorificação do homem. 

– Por isso, quem quiser viver segundo a lei, ou seja, quem quiser construir uma vida sobre aparências exteriores, sobre adesão ou conformidade exterior a mandamentos e regras, fatalmente trará sobre si maldição e condenação, porque tão só angariará condenação e morte, mas, quem reconhecer seu imerecimento e clamar pela misericórdia divina, este, sim, será alcançado pela graça, que tem o poder de libertá-lo do pecado. 

– Mas o apóstolo nos dá ainda um outro argumento para nos mostrar que não podemos nos submeter mais à lei de Moisés, argumento este baseado no fato de que a lei mosaica já cumpriu o seu tempo, já teve encerrada a sua vigência. 

– Na carta aos gálatas, Paulo já havia mencionado a circunstância de a lei de Moisés ter sido sucedida pela lei de Cristo, dizendo que a lei de Moisés havia servido como um verdadeiro tutor, como um “aio” até que Cristo viesse (Gl.4:1-5). 

– Agora, usando de outra ilustração, o apóstolo também vai mostrar que a lei de Moisés já havia encerrado o seu período de vigência como critério estabelecedor do relacionamento entre Deus e os homens. 

– Para tanto, o apóstolo faz uso da própria lei, mais especificamente das regras que disciplinam o casamento (Rm.7:1-6). 

– Paulo mostra que a mulher está sujeita ao marido apenas enquanto ele está vivo. A morte, segundo a lei de Moisés, operava a dissolução do vínculo matrimonial, de tal maneira que, morto o marido, a mulher estava livre para casar com quem quisesse. 

– Ora, quando marido e mulher se casam, cria-se um pacto entre eles que somente a morte pode dissolver. 

– Portanto, enquanto estiver vivo o marido, a mulher a ele está sujeita e não poderá casar com outra pessoa enquanto ele vivo estiver. Pois bem, se, porém, o marido morrer, ela está livre para casar novamente, porque não há mais esta sujeição dela ao defunto. 

– Foi, exatamente, diz o apóstolo, o que aconteceu com o homem que foi justificado pela fé em Cristo Jesus. 

– Ele estava sob o domínio da lei de Moisés, devia se sujeitar a esta lei, que era a vontade de Deus externada a Israel e, por intermédio de Israel, a todos os povos. Entretanto, sob o domínio da lei, nós pecamos, porque a lei não nos libertou do domínio do pecado. 

–  Assim, estar sob o domínio da lei é estar, também, sob o domínio do pecado, já que a lei a ninguém justifica, a ninguém liberta do pecado. 

– Mas o que ocorre quando cremos em Jesus, nos arrependemos dos nossos pecados, nossos pecados são perdoados e alcançamos a justificação?

– Nós morremos para o pecado, nós nos separamos do pecado, porque nos unimos a Deus. Ora, se morremos para o pecado, também não mais estamos sujeitos a ele, assim como a mulher não está mais sujeita ao marido que morreu. 

– Mas, se não estamos mais sujeitos ao pecado, também não estamos mais sujeitos à lei, porque o domínio de um implicava o domínio do outro.

Em sendo assim, quando somos justificados, estamos livres tanto do pecado quanto da lei, assim como o viúvo está livre para casar com outro. 

– É por isso que o justificado passa a viver apenas para Cristo, agora é de Cristo, passamos a ser doutro marido, doutro senhor, passamos a pertencer a Cristo.

Assim, quem é de Cristo, não é mais da lei, morreu para a lei e para o pecado. Deste modo, vemos que não é possível a sujeição de um justificado sob a lei de Moisés, tanto quanto não é possível que um viúvo se mantenha sujeito ao cônjuge falecido. 

– E, com um importantíssimo detalhe, que nos é indicado por Russell Shedd: “…Cristo, o novo marido, não morre mais (6.9) e, portanto, a nova união nunca mais será dissolvida.” (BÍBLIA SHEDD, nota a Rm.7.4, p.1591). Aleluia! 

IV – A GRAÇA E O ANTINOMISMO 

– Entretanto, ao dizer que não estamos mais sob o domínio da lei e que não é pela observância exterior que o homem alcança a sua justificação, bem assim que o favor de Deus é imerecido, ou seja, não depende dos méritos do homem para ser recebido, o apóstolo vislumbrou que isto poderia ser mal interpretado, como sendo uma autorização para que se vivesse de modo libertino, sem qualquer regra ou lei que regulasse o comportamento humano. 

– Este pensamento do apóstolo, certamente, foi inspirado pelo Espírito Santo, porquanto, ao longo da história da igreja, sempre surgiram aqueles que, em nome da graça de Deus, defenderam a liberdade para pecar, a desnecessidade de se manter uma vida contida e de separação do pecado, já que “a lei não mais vigora e Deus nos ama e nos favorece independentemente dos nossos méritos”, linha de pensamento que, aliás, encontra ainda hoje guarida, mormente naqueles que afirmam que “Deus só quer o coração”. 

– Encontramos, mesmo, ainda nos dias apostólicos, quem assim pensasse e agisse, como é o caso dos nicolaítas, que são mencionados pelo próprio Senhor Jesus nas cartas endereçadas às igrejas de Éfeso e de Pérgamo (Ap.2:6,15), sendo que, em ambas as menções, o Senhor foi claro ao dizer que aborrecia as obras praticadas por eles. 

– O nicolaísmo caracterizava-se por uma ideia de que, já que não há mais qualquer necessidade de sujeição à lei, os homens estavam isentos das exigências morais, ou seja, não estavam mais submetidos a quaisquer regras ou normas éticas ou morais.

Embora Jesus aborreça as obras dos nicolaítas, a atitude das igrejas não era a mesma: Éfeso as aborrecia, mas Pérgamo tinha pessoas que as seguiam. 

– Não é o fato de não estarmos sujeitos à lei de Moisés que nos autoriza a dizer que não existem regras ou mandamentos a ser seguidos por aqueles que forem justificados pela fé em Cristo Jesus. 

– A justificação torna-nos justos, mas isto, se isto significa que entramos num patamar que jamais alcançaríamos pela lei, também nos mostra que não temos permissão divina para pecar. 

– A ausência da lei não gera um “antinomismo”, ou seja, uma doutrina que diz que não há lei nem qualquer poder que determine o que devemos, ou não, fazer. 

– Esta preocupação do apóstolo é o que dá início ao argumento do capítulo 6, onde Paulo discute se o fato de não estarmos sujeitos à lei nos leva à autorização para pecar.

– O apóstolo, dentro do seu estilo retórico, pergunta: “permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?” (Rm.6:1). E, de imediato, responde enfaticamente: “De modo nenhum.

Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm.6:2). OBS: “…A pergunta levantada aqui parece partir dos que temem que a doutrina da justificação pela fé somente elimine as obrigações morais.

Paulo rejeita essa ideia e demonstra que o cristão não descarta a moral. Pelo contrário, deixa de ter o pecado por senhor para se submeter à retidão.” (BÍBLIA DE ESTUDO NVI, nota a Rm. 6.15-23, p.1930). 

– A graça de Deus providenciou ao homem um dom gratuito, que é de um só homem, Jesus Cristo, que abunda sobre muitos (Rm.5:15). Ela é o resultado da obediência de Cristo ao Pai e é esta obediência que permite que sejamos justificados. 

– Sendo assim, a justificação, como resultado da obediência de Cristo, importa em que os justificados sejam igualmente obedientes.

Assim como Adão foi desobediente e toda a humanidade passou a ser, também, desobediente, os justificados são obedientes à semelhança de Cristo, o segundo Adão. 

– Mas também se disse que, com a manifestação da graça de Deus, conseguimos nos libertar do pecado. 

– O pecado dominava sobre o homem, mas Cristo veio e nos libertou do domínio do pecado.

Quando cremos em Cristo, somos libertos do pecado, pois o pecado é, sobretudo, incredulidade (Jo.16:9), pois é a incredulidade que nos impede de chegar à Terra Prometida (Hb.3:19). 

– Liberdade, porém, não se confunde com libertinagem e reside aqui um dos grandes erros patrocinados pelo inimigo de nossas almas e que levam o homem à escravidão do pecado, que é mantida quando se adota um comportamento como o “antinomismo”. 

– Quando a Bíblia Sagrada diz que o homem foi criado com liberdade (Gn.2:16,17), devemos observar que liberdade é a possibilidade de o homem escolher entre obedecer ou desobedecer a Deus. 

– Entretanto, como nos mostra o texto sagrado, a liberdade foi construída debaixo da soberania divina. “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo”.

As palavras através das quais Deus deu ao homem consciência de que ele tinha livre-arbítrio estavam condicionadas ao senhorio de Deus. Deus deu uma ordem ao homem, estabelecendo o que era o certo e o que era o errado. 

– A liberdade, portanto, jamais pode ser concebida como “autonomia”, ou seja, como uma faculdade do homem de ele próprio estabelecer qual é a regra, qual é a norma, como, aliás, entenderam alguns filósofos ao longo da história da humanidade. 

– A liberdade, portanto, não se confunde com a ausência de um poder superior ao homem. Deus é superior ao homem e estabelece, como Criador de todas as coisas, as regras e os mandamentos que devem ser observados pelo homem.

O homem, por ser livre, tem a possibilidade de observar, ou não, estas regras, mas não há um mundo sem regras ou sem leis. A liberdade sempre se estabelece debaixo de um senhorio divino, debaixo de regras e mandamentos estabelecidos pelo Senhor. 

– Por isso, aliás, a liberdade redunda em responsabilidade. O outro lado da liberdade, o outro lado da possibilidade de se atender, ou não, ao mandamento divino é a responsabilidade, ou seja, o homem responde pela opção que tomar. 

– Tanto o homem não é senhor de si, tanto não é ele quem estipula as regras e as normas que terá de responder diante de Deus pelo que tiver feito. 

– Este princípio, aliás, foi muito bem apontado por Paulo quando escreveu aos gálatas: “Não erreis, Deus não Se deixa escarnecer, porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl.6:7).

– O homem, por ser homem, por ser criatura proveniente das mãos de Deus, está sujeito a regras e mandamentos, pois o nosso Deus não é Deus de confusão (cf. I Co.14:33), mas um Deus de ordem que, por isso, tudo bem esquadrinhou e estabeleceu, inclusive no que diz respeito ao exercício da liberdade humana. 

– Assim sendo, mesmo justificado, de modo algum estaria isento de atender a normas e mandamentos provenientes de Deus. 

– Quando pecou, o homem se tornou escravo do pecado (Jo.8:34). Assim, não tem liberdade, não faz o que quer, mas, sim, o que o pecado que nele habita deseja (Rm.7:19,20). 

– Portanto, jamais se poderá ter liberdade enquanto se permanecer no pecado, que é, precisamente, o que o apóstolo ensina no capítulo 6 de Romanos. 

– O sacrifício de Cristo no Calvário operou a nossa redenção, ou seja, pagou o preço dos nossos pecados e, por isso, estamos libertos do poder do pecado, tanto que cremos em Jesus. 

– A libertação do pecado, portanto, significa que passamos a ter paz com Deus e a paz com Deus, como já temos visto, representa a nossa separação do pecado, a nossa separação do mundo (Tg.4:4; I Jo.2:15). 

– Como estamos unidos a Deus, por intermédio de Jesus, ao mesmo tempo estamos separados do pecado. Ora, sabemos que separação é morte e é neste sentido que Paulo nos diz que estamos mortos para o pecado (Rm.6:2). 

– Ao sermos justificados, nós passamos a assumir uma nova posição. Agora estamos “do lado do bem”, ou seja, somos um com o Senhor (Jo.17:21), estamos em comunhão com Deus, formamos uma unidade com o Pai, por intermédio do Filho. 

– Esta nova posição nos faz entrar no reino de Deus. Esta entrada no reino de Deus é o que Paulo denomina de “batismo em Jesus Cristo”, que é a inserção no corpo de Cristo, o ingresso na igreja por intermédio do sangue de Cristo (Ef.2:13,18). 

– Portanto, quando passamos a pertencer ao povo de Deus, simultaneamente somos separados do pecado. 

– Morremos para o pecado e nascemos de novo para Deus. Este ato, que ocorre quando da salvação do homem, é o ato que é simbolizado no batismo nas águas, quando, então, cumprindo uma ordenança de Cristo, mostramos publicamente aos homens o que aconteceu no nosso interior. 

– Diante dos homens, nós confessamos publicamente que cremos em Jesus e na Sua Palavra, em seguida, somos mergulhados nas águas do tanque batismal, num símbolo do que já aconteceu conosco, ou seja, de que morremos para o pecado, de que estamos separados da vida pecaminosa e, depois, levantamos das águas, testificando que nascemos de novo, para, a partir de agora, viver com e para Deus, sem qualquer contacto com o pecado.

OBS: “… No capítulo 6, Paulo contesta a ideia errônea de que os crentes podem continuar no pecado e ainda assim estarem livres da condenação eterna, em virtude da graça e misericórdia de Deus em Cristo.

– Paulo refuta esta distorção antinomiana da doutrina da graça, pondo em relevo uma verdade fundamental:

o verdadeiro crente demonstra estar ‘em Cristo’ por estar morto para o pecado. Ele foi transportado da esfera do pecado para a esfera da vida — com Cristo (vv.2-12).

– Uma vez que o crente genuíno separou-se definitivamente do pecado, não continuará a viver nele. Inversamente, quem vive no pecado não é crente genuíno (cf. 1 Jo.3.4-10).

Em todo este capítulo, Paulo enfatiza que não se pode ser servo do pecado e servo de Cristo a um só tempo (vv. 11-13, 16-18). Se um crente torna-se servo do pecado, o resultado será a condenação e a morte eternas (vv. 16-23).” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Rm.6.1, p.1707). 

– O apóstolo, assim, explica aos crentes de Roma o significado do batismo nas águas, que é uma alegoria, uma figura do que ocorre no campo espiritual quando há a salvação na pessoa de Jesus Cristo. 

– Não é o batismo o ato que transmite a graça divina ao homem, como, erroneamente, ensinam os chamados “sacramentalistas”, tendo os católicos romanos à frente. 

– O batismo nas águas não opera a absolvição dos pecados, não se confunde com o “batismo em Jesus Cristo” mencionado em Rm.6:3. 

– O batismo nas águas é uma ordenança de Jesus para a Sua igreja, necessária para que venhamos a pertencer à igreja local e para o nosso testemunho diante dos homens, mas não é ele que opera a salvação, como, aliás, deixa claro o apóstolo ao fazer uma explanação do significado do ritual do batismo nas águas. 

– Ora, se o salvo está morto para o pecado, evidentemente que a graça de Deus não é concedida para que venhamos a pecar. 

– Se somos justificados é porque estamos mortos para o pecado (Rm.6:7) e, portanto, não mais pecamos, não mais somos escravizados pelo pecado. O pecado não mais tem domínio sobre nós, pois fomos libertos por Jesus Cristo (Rm.6:22). 

– Assim, a justificação nos liberta do pecado, de modo que não podemos mais viver em pecado, mas dele estamos separados por efeito da graça divina. 

– Sem qualquer fundamento, portanto, o pensamento que diz que podemos pecar livremente, que podemos fazer o que quisermos, já que estamos livres por causa da salvação, como pensavam os nicolaítas e pensam muitos que acham que, por estarem salvos, podem fazer o que bem entenderem. 

– Não estamos sob a lei de Moisés, é bem verdade, como também não estamos sob a lei da circuncisão, mas isto não quer dizer que estejamos sem qualquer lei. Muito pelo contrário, como Paulo nos diz nesta epístola aos romanos, vivemos hoje sob a lei do espírito de vida em Cristo Jesus (Rm.8:2). 

– Esta “nova lei” é a “lei da justiça” e, por isso, livres do pecado, tornamo-nos “servos da justiça” (Rm.6:18). 

– Por isso, também, nossos corpos são, doravante, “instrumentos de justiça” (Rm.6:13 “in fine”). E o que é a “justiça”? É exatamente o contrário do pecado, que é iniquidade, que é injustiça.

Agora, vivemos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm.6:11). Como somos instrumentos de justiça, nossas ações geram santificação, ou seja, separação do pecado (Rm.6:19), assim como, por fim, a vida eterna (Rm.6:22), ou seja, a comunhão para sempre com o Senhor. 

– O cristão segue, sim, mandamentos, porque não é um libertino, mas alguém que reconhece o senhorio de Deus na sua vida. 

– Por isso, sempre faz o que Jesus manda (Jo.15:14). E o que Jesus nos manda? Que nos amemos uns aos outros, como Ele nos amou (Jo.15:12).

O salvo tem a Palavra de Deus, que testifica de Cristo (Jo.5:39), como sua única regra de fé e prática. 

– A graça de Deus faz-nos seguir a Palavra do Senhor, porque é ela a verdade, na qual nos santificamos (Jo.17:17), santificação que, como já se disse, é um dos objetivos da justiça recebida por intermédio de Cristo Jesus. 

– Vemos, pois, que a verdadeira liberdade cristã é observar o que manda a Palavra de Deus, é seguir o que foi determinado pelas Sagradas Escrituras. Sem isto, não se tem verdadeira demonstração da justificação pela fé em Cristo Jesus, não se tem a comprovação de que houve salvação na vida de alguém. 

V – A GRAÇA E A SANTIDADE

– Por intermédio deste ensino de Paulo, vemos que é impossível que alguém seja considerado justificado se ainda estiver vivendo em pecado. 

– O verdadeiro cristão é uma pessoa que não permanece em pecado, que não pratica a maldade nem permite que seu corpo seja instrumento de imundícia, como ocorria antes da salvação. 

– Há uma novidade de vida, uma vida inteiramente nova por parte daquele que tem seus pecados perdoados e é justificado pela fé em Cristo Jesus (Rm.6:4).

OBS: “A libertação da Lei não significa licença para pecar, mas sujeição a Deus. Na novidade do Novo Concerto, o Espírito Santo dá poder para obedecer a Deus, um poder que a Lei em si jamais poderia dar.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Rm.7.6, p.1159) (destaque original). 

– Da mesma maneira que Paulo nos mostra que a salvação não representa uma “autonomia” do homem em relação a Deus, ou seja, do mesmo modo que o apóstolo nos faz ver que o salvo não pode fazer o que quer, mas apenas o que Jesus manda, também nos deixa bem claro que a vida cristã exige separação do pecado. 

– Paulo diz que, quando morremos para o pecado, passamos a viver para Deus. O homem velho, ou seja, o homem pecador, o homem dotado da natureza pecaminosa, foi crucificado com Cristo e, assim como Jesus ressuscitou, também o crente nasceu de novo, passando a viver em novidade de vida (Rm.6:6). 

– Esta explanação de Paulo é muitíssimo importante, pois há muitos que querem a servir a Deus, mas se mantendo na vida de pecado, mudando só “alguma coisa” na sua forma de viver.

Entretanto, a verdadeira salvação implica em eliminação da natureza pecaminosa, em crucifixão do homem velho, em que “o corpo do pecado seja desfeito” (cf. Rm.6:6).

OBS: “…Esta destruição deve ser, pois, entendida em um sentido espiritual. Em um sentido literal, o corpo está sendo destruído também naqueles cujo velho homem foi crucificado, quer eles queiram, ou não. 

– O apóstolo explica esta destruição [espiritual, observação do tradutor em língua inglesa] acrescentando: ‘para que não mais sirvamos ao pecado’.

Em Colossenses 3:5, ele o explica isto com estas palavras:‘ Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado etc.’. A natureza carnal tem uma semente do diabo e se esforça para produzir pecado e trazer fruto pecaminoso. 

– A natureza espiritual, [o novo homem, observação do tradutor em língua inglesa], tem a semente de Deus e busca se esforçar para produzir justiça e os frutos da justiça.…” (LUTERO, Martinho. Commentary on Romans. Trad. J. Theodore Mueller, p.102) (tradução nossa de texto em inglês). 

– É importante aqui deixar claro que, quando o apóstolo Paulo fala em “corpo do pecado” não está se referindo ao corpo físico do homem.

Há uma tendência em alguns em identificar o pecado com o corpo físico do homem, como se esta parte do ser humano fosse a responsável única pela degeneração do homem, o que, entretanto, não é verdade.

Quando o homem peca, ele peca em toda a sua inteireza, ou seja, corpo, alma e espírito são atingidos e envolvidos pelo pecado. 

– Tanto é assim que, ao descrever a queda do primeiro casal, o texto bíblico envolve todos os três elementos integrantes do ser humano no ato. Senão vejamos (Gn.3:6).

“E vendo a mulher que”

a) “aquela árvore era boa para se comer” – aqui temos nitidamente uma necessidade física, algo vinculado ao corpo.

b) “e agradável aos olhos” – aqui temos nitidamente uma necessidade psíquica, relacionada ao sentimento e ao intelecto, algo vinculado à alma.

c) “e árvore desejável para dar entendimento” – aqui temos nitidamente uma necessidade espiritual, relacionada com o desejo de se sobrepor a Deus, de alcançar o senhorio, algo vinculado ao espírito.

 “tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” – sobreveio o pecado, como uma tentativa de satisfação das necessidades surgidas em todos os três elementos integrantes do ser humano. 

– O pecado envolve corpo, alma e espírito, tanto assim que, quando o apóstolo Paulo fala na santificação, fala da necessidade de haver a santificação de espírito, alma e corpo, indistintamente (I Ts.5:23). 

– Portanto, quando se fala em “corpo do pecado” não se está referindo apenas ao corpo físico, mas à natureza pecaminosa do homem, a este homem velho que é dominado pelo pecado, ao que Paulo denomina de “carne” (em grego, “sarx”, σάρξ), “o instrumento voluntário do pecado”. 

– A “carne” é fraca (Rm.6:19), tanto que, enquanto não há a libertação por Jesus Cristo, não faz ela outra coisa senão fazer com que todo o homem sirva para a imundícia e para a maldade, levando o homem, inevitavelmente, à morte. É esta “carne” que tem de ser desfeita, o que somente se operará mediante a justificação e a manutenção de uma vida de separação do pecado.

OBS: “…O verbo grego traduzido por seja desfeito não significa tornar extinto, mas ser destituído ou privado de poder.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Rm.6.6, p.1157) (destaque original). 

– A graça de Deus, portanto, exige para sua eficácia que o homem se mantenha separado do pecado, ou seja, que o homem se mantenha em santidade.

É por isso que, após a justificação, segue-se, no processo da salvação do homem, a santificação, que é o processo pelo qual o homem se mantém separado do pecado e separado para Deus.

Daí porque o escritor aos hebreus ter dito que devemos seguir a paz com todos e a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). 

– Quando passamos a estar sob o domínio da graça de Deus, não mais podemos pecar. O pecado só existe naqueles que ainda estão debaixo da lei, diz o apóstolo, pois, ali, como a lei não consegue libertar o homem do pecado, há o domínio do pecado sobre o homem e, desta maneira, a “carne” faz com que as obras do homem sejam más e produzam a morte, ou seja, a separação entre o agente e Deus (Rm.7:5).

Por isso, o apóstolo é enfático ao afirmar: “não reine o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências” (Rm.6:12).

OBS: “…É um imperativo; não uma aspiração, mas uma exigência. Tornai-vos (em vossa vida) o que vós doravante sois (v.11): mortos para o pecado, vivos em Cristo. É um grande tema Paulino. Cf. Cl.3.3,5 (vós estais mortos…fazei morrer…); Fl. 3.12-15.” (BÍBLIA – Tradução Ecumênica Brasileira, nota d, p.2182) 

– Por isso, devemos bem pôr questões que, normalmente, as pessoas incrédulas apresentam aos crentes.

Para estas pessoas, “ser crente” é uma ‘prisão’, pois o crente não pode isto, não pode aquilo”.

Todavia, este é um pensamento completamente equivocado. O crente é a pessoa que é verdadeiramente livre (cf. Jo.8:36), porque crucificou a “carne” e, desta maneira, não está mais sob o domínio do pecado. 

– Os pecadores não são “livres”, mas estão presos pelo pecado e fazem as coisas erradas não porque queiram ou tenham “liberdade para fazer”, mas, única e exclusivamente, porque não podem impedir que o pecado que habita neles, ou seja, a “carne” produza obras que os levam à separação de Deus, que os levam à morte. 

– Esta situação desesperadora do pecador é descrita por Paulo numa das passagens mais eloquentes das Escrituras a respeito da miséria do pecado na vida do homem. No capítulo 7 de Romanos, o apóstolo mostra como é miserável a situação do homem que vive sob o domínio do pecado.

Embora queira fazer o bem, não pode. Embora saiba que o que é errado, continua a fazer, porque não tem condições de se libertar do domínio do pecado, do “corpo desta morte”. 

– Esta situação de escravidão, de prisão é a “liberdade” fantasiosa vendida e propalada pelo adversário das nossas almas, com um “colorido” e com “atrativos” que têm levado muitos à perdição, inclusive muitos que já tiveram contacto e conhecimento da salvação na pessoa de Cristo Jesus. O pecado, como diz Paulo, engana o homem e o mata (Rm.7:11).

– De forma sutil, astuta, o pecado toma ocasião pelo mandamento (Rm.7:8), ou seja, aproveita a oportunidade de que a lei nos faz conhecer o que é certo e o que é errado (algo que também descobrimos pela consciência) e, diante desta oportunidade criada, faz-nos desejar o que não convém, faz-nos querer desobedecer às normas estabelecidas por Deus. 

– Este desejo nasce do fato de que temos a natureza pecaminosa que herdamos de Adão. Assim, adquirindo o homem a consciência do que é certo e do que é errado, inevitavelmente peca, resolve escolher o mal e rejeitar o bem, porque o pecado aproveita a oportunidade para nos fazer desejar pecar. 

– É preciso, portanto, observar que não é possível que, uma vez atingidos pela graça divina, voltemos a pecar, pois o pecado tem como recompensa, como salário a morte, algo que é totalmente contrário ao que nos é dado pela graça de Deus. 

– O próprio Jesus disse que veio para que tivéssemos vida (Jo.10:10) e, desta maneira, quem quer que proponha uma vida espiritual onde haja pecado, está enganando e/ou sendo enganado, vez que o pecado tem por fim único matar o homem e nada mais. 

– Não é por outro motivo, pois, que o apóstolo Pedro nos recomenda que, uma vez debaixo da graça de Deus, sejamos santos, isto é, separados do pecado em toda a nossa maneira de viver (I Pe.1:15).

OBS: “ A ideia de um cristão continuar no pecado é totalmente contrária ao evangelho. O pecado é abominável e destrutivo, e aqueles que estão mortos para o pecado e o poder governante do pecado nunca mais deveriam querer viver nele.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a Rm.6.2, p.1157) (destaques originais).  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/1225-licao-7-a-salvacao-pela-graca-i

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